A construção de limites.
Fonte: Sabiamente

Como ensinar limites às crianças no cenário atual?
Questões econômicas e sociais têm gerado mudanças significativas nas configurações familiares, nas relações entre crianças e adultos e nas práticas educacionais.
Estratégias educativas consideradas adequadas em épocas anteriores são questionadas na atualidade, e novos padrões, valores e modelos de relação são constantemente estabelecidos entre pais e filhos, permeados pelas expectativas e ideais sociais.
As novas exigências sociais estabelecem como ideal a independência, a competitividade, a espontaneidade e a iniciativa, o que requer práticas educativas menos autoritárias e mais democráticas.
Uma das consequências deste cenário é a queda da autoridade parental e a prevalência de relações mais permissivas entre adultos e crianças, gerando dúvidas nos pais e professores a sobre: como posso dar limites sem prender demais? Como dar liberdade sem perder o controle?
O que são limites e como eles são estabelecidos?
Com frequência, limite é um termo associado à obediência, ao respeito, à retidão moral e à cidadania. A construção de limites está diretamente ligada à capacidade da criança de socialização e convivência bem-sucedidas, de forma que ela possa reconhecer e considerar os próprios limites e os dos demais.
A família é o espaço no qual os valores e normas sociais são repassados às gerações mais novas. É na relação com os pais/responsáveis que primeiramente se estabelece a noção de limite, o respeito à autoridade e a capacidade de se colocar no lugar do outro.
A escola, por sua vez, além de ser uma instituição responsável pelo desenvolvimento do conhecimento formal, também desempenha um papel importante no estabelecimento dos limites infantis. A aprendizagem escolar, em uma perspectiva contemporânea, deve passar pela constituição social e pela preparação para o exercício da cidadania. É importante não apenas estabelecer os limites, mas também proporcionar reflexão acerca deles.
Qual é o papel da escola e qual é o papel da família?
Escola e família possuem, no estabelecimento dos limites infantis, papéis compartilhados, mas diferentes. Pais e professores mostram dificuldades em delimitar seus papéis e ações, muitas vezes entrando em conflito sobre a quem cabe esta responsabilidade e como equilibrar ao mesmo tempo o ensino de limites e a liberdade de possibilidades às crianças.
Apesar da valorização atual de práticas educativas de maior incentivo à autonomia, liberdade, diálogo e expressão infantil, estabelecer regras e ensinar o respeito à autoridade são também essenciais para o desenvolvimento infantil. A criança necessita de referências externas, uma vez que não possui condições psicológicas para construir e entender sozinha as regras e as normas de condutas sociais.
Mas afinal, qual é o equilíbrio?
Altos níveis de estresse associam-se ao uso de medidas disciplinares mais rígidas e a punições físicas, tanto para os adultos quanto para as crianças envolvidas.
Pais/responsáveis relatam que, quando não sabem mais o que fazer, utilizam punição física como medida de desespero, sofrendo com a culpa e as dúvidas.
A confusão parece girar em torno de como equilibrar tantas questões envolvidas na construção de limites: a personalidade da criança, o desejo de autoridade, dúvidas e inseguranças, dificuldades e questões emocionais dos pais, falta de apoio, valores pessoais, culpas e cobranças sociais.
O cenário que parece gerar mais mudanças não é nem o extremo da punição, nem o extremo da falta de regras e limites, e sim o equilíbrio da parceria entre pais e escola na aplicação de estratégias de diálogo e reflexão, no ensinamento da construção de limites e empatia, levando em conta que a criança aprende através do modelo familiar e dos professores, e que é um ser em construção.
Além disso, é muito importante reconhecer o momento em que se deve buscar ajuda profissional, aceitando que não existe um manual de instruções e que é compreensível que os pais e a escola não saibam sempre o que fazer em todas as situações.