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Revista Crescer

Até 50% dos brasileiros entre 5 e 19 anos podem apresentar sobrepeso ou obesidade em 2035.

Fonte: Revista Crescer / Malu Echeverria


brasileiros entre 5 e 19 anos podem apresentar sobrepeso

Desde o primeiro ultrassom, as gestantes aprendem que o peso do bebê é um importante indicador de saúde. O aumento gradual é normal e esperado, e costuma deixar pais e mães satisfeitos a cada consulta, o que vai se repetir ao longo da infância. Ou pelo menos deveria.


Nos últimos anos, entretanto, novas estatísticas demonstram que o sobrepeso e a obesidade infantil estão crescendo vertiginosamente.


“Um fenômeno mundial, mais comum entre a população de baixa renda, e que nenhum país conseguiu reverter até agora”, alerta a endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e chefe da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).


De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2024, documento da Federação Mundial de Obesidade, até 50% das crianças e adolescentes brasileiros entre 5 e 19 anos podem apresentar sobrepeso ou obesidade em 2035.


Em 2020, segundo o levantamento, a prevalência era de 20%, o equivalente a aproximadamente 15 milhões de pessoas nessa faixa etária. Com o aumento, esse número deve chegar a 20 milhões. Mas o que está por trás das estatísticas, e, principalmente, quais são os caminhos para mudar esse cenário?


Mais de uma causa

Ainda hoje, uma criança acima do peso costuma ser taxada de preguiçosa e comilona. Mas a etiologia (ou seja, a causa) da obesidade é multifatorial.


“Por essa razão, ela tem sido amplamente estudada e explicada a partir da interação de vários aspectos, como a genética, o comportamento e a exposição ambiental”, afirma a gastroenterologista pediátrica Mara Alves da Cruz Gouveia, professora de pediatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).


No período conhecido como Primeiros Mil Dias, que incluem a gravidez mais os dois anos iniciais do bebê, por exemplo, a especialista destaca a influência do estado nutricional da mãe na gravidez e o aleitamento materno


“Os estudos mostram que tanto a desnutrição quanto a obesidade materna na gestação são fatores de risco para a obesidade infantil. Por outro lado, a amamentação tem um efeito protetor”, resume.


Já ao longo da Primeira Infância (até os 6 anos), a gastroenterologista chama a atenção sobre a influência negativa do uso de antibióticos e da oferta de alimentos ultraprocessados, uma vez que ambos podem afetar a microbiota intestinal. “Além disso, o estilo de vida atual, como é sabido, também favorece esse desequilíbrio da balança, por causa do aumento do consumo energético e da diminuição do gasto calórico”, acrescenta Mara.


Não é de hoje – e definitivamente, não é à toa – que os alimentos ultraprocessados são apontados como vilões do cardápio. Além de ricos em sal, gordura e açúcar, geralmente são pouco nutritivos e muito palatáveis. “Outro ponto é que são baratos e de fácil acesso.


Em comunidades mais pobres, por exemplo, você encontra mais lojas com produtos industrializados do que in natura”, justifica a endocrinologista Maria Edna, da SBEM. “Isso sem contar que são práticos, pois estão prontos ou são simples de preparar, e, muitas vezes, anunciados como saudáveis, com todas as vitaminas do alfabeto nos ingredientes”, completa.


Por fim, um obstáculo sobre o qual os pediatras alertam há anos é o sedentarismo de toda a família. Além da questão da segurança, que fez com que as crianças das últimas gerações ficassem mais trancadas em casa, a introdução de novas telas (tanto para entreter quanto para estudar) na rotina também prejudicou a movimentação dos pequenos.


“As crianças fazem atividades físicas espontaneamente, afinal, correm e pulam o tempo todo. Mas a falta de espaço para brincar e o uso de telas criam um fator obesogênico (isto é, que contribui para a obesidade) considerável”, ressalta o pediatra e nutrólogo

Mauro Fisberg, coordenador do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi (SP). Não basta praticar esportes e fazer educação física, se no restante do tempo as crianças vão ficar sentadas em frente a alguma tela.


O que cabe às famílias

Tanto a prevenção quanto o tratamento do excesso de peso passam por mudanças na alimentação e no estilo de vida de TODA a família. “Uma alimentação mais simples, como a que tínhamos na época em que não havia tantas pessoas obesas, é uma das saídas”, sugere a nutricionista infantil e colunista da CRESCER Karine Durães.


Logicamente, isso implica planejar as compras e as refeições familiares e priorizar os alimentos mais naturais em detrimento dos ultraprocessados. “Para facilitar o trabalho, é fundamental envolver todos os membros da casa, desde a lista do mercado ao preparo dos pratos, já que levamos uma vida corrida.


O que fazemos, por exemplo, ao programar uma viagem”, compara. Que tal pegar algumas horas no fim de semana para deixar um feijão prontinho em potes no freezer para a semana? E, se puder ter panelas elétricas que facilitam o preparo, faz diferença. Melhor do que gastar no delivery...


Para Karine, vale apostar em cardápios menos elaborados. “Antigamente, o prato do brasileiro era composto de arroz, feijão, salada e alguma proteína, como carne ou frango. Pratos que exigiam mais tempo, como uma lasanha, eram feitos só no domingo. Hoje, ficamos insatisfeitos se tivermos que repetir algo durante a semana. O resultado é que as mães já não sabem mais o que colocar na lancheira”, diz.


A simplicidade nem sempre é simples

Por isso, a especialista acredita que, quando possível, a família deve buscar apoio de profissionais da nutrição para dicas individualizadas, de acordo com o dia a dia e preferências alimentares de cada um. 


De modo geral, a ideia não é proibir, e sim equilibrar a oferta de alimentos. Paralelamente, cabe aos pais proporcionar passeios em que as crianças possam se movimentar com liberdade. “Mais parque e menos shopping”, diz Karine.


A psiquiatra Ana Clara Floresi lembra ainda que o foco do tratamento de uma criança com sobrepeso ou obesidade deve ser a saúde, sempre. “Jamais faça comentários negativos sobre o corpo dela ou de qualquer outra pessoa, muito menos o seu. Esse tipo de julgamento não ajuda em nada. Se necessário, trabalhe a sua relação com o próprio corpo, pois você é um exemplo para o seu filho”, reforça.


É nisso que acredita a fotógrafa Dayane Lima, 37, mãe de Bernardo, 7, e Théo, 3. O mais velho, que sempre teve um percentil alto na curva de crescimento, tanto em relação ao peso quanto à altura, atualmente está acima do peso. “Em casa, valorizamos a diversidade de corpos.


O Théo é magrinho e o Bernardo, gordinho. Os dois são lindos, como faço questão de dizer a eles”, conta Dayane. Para ela, essa atitude ajudou o menino na única vez em que sofreu bullying de uma colega por conta do seu tamanho. “Eles conversaram e se entenderam, e hoje são amigos”, comemora.


Além de todas as medidas individuais, sabemos que o controle do sobrepeso e da obesidade infantil exige também medidas públicas, que envolvem a tributação de alimentos ultraprocessados, segurança nas cidades e educação nutricional.


Os especialistas consultados pela CRESCER elogiam algumas soluções implementadas nos últimos anos com esse objetivo, como a rotulagem frontal de alimentos altos em sódio, gordura e açúcar, a proibição de uso de celular nas escolas e o banimento de alimentos ultraprocessados nas escolas públicas e privadas na cidade do Rio de Janeiro. 


“No entanto, muitas dessas medidas são descentralizadas. Precisamos de uma política específica de prevenção e tratamento com abrangência nacional”, diz o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, do Pensi.


“Fizemos isso com o cigarro, com o uso do cinto de segurança, com a mistura de álcool e direção. Se impacta toda a sociedade, essa conta também precisa ser dividida”, acrescenta a endocrinologista Maria Edna, do HC-FMUSP.





 


 







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