Fonte: Sabiamente
Nos últimos dois anos, essa relação ficou um tanto confusa. Mas sabemos que a parceria é fundamental para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Venha entender por quê.
Cuidar de uma criança é tarefa coletiva e inclui o educar – não só dentro de casa, mas fora também. Porém, não basta os pais matricularem o filho na escola e acreditar que a responsabilidade pela educação foi transferida. Vai muito além disso.
Aquele pensamento antigo “a família educa e a escola ensina” não faz sentido.
“Hoje, vivemos uma conjuntura histórica e social que não sustenta essa divisão tão específica de funções. Não por acaso, atualmente se fala em uma escolarização integral, o que não significa apenas que as crianças e os jovens permaneçam na escola por mais tempo, mas que passe a ser papel da escola incidir sobre questões que antes não lhe diziam respeito, como as chamadas competências socioemocionais”, aponta a psicóloga Marta Picchioni, professora do curso de extensão “Família e Escola: a tarefa educativa no tempo presente”, do Instituto Singularidades, de São Paulo (SP).
E observamos mesmo esse movimento. Afinal, se habilidades como criatividade, pensamento crítico e inteligência emocional também vão importar para o mercado de trabalho no futuro, não dá para deixar isso de fora do ambiente escolar. É claro que as relações afetivas, o convívio com as diferenças e as relações de conflito sempre ocorreram na escola, mas não apareciam como um componente curricular oficial, o que acontece agora em diversas instituições.
Mas ensinar sobre respeito, emoções e afins não era papel da família? Sim! Mas por que não pode ser de ambas? “O que vemos é uma dificuldade maior de delimitarmos os papéis de família e escola de maneira tão clara, de modo que a tarefa educativa passa a ser entendida como responsabilidade de toda uma geração em relação à outra, ou seja: de adultos em relação a crianças e jovens em formação”, completa Marta Picchioni.
Apesar de exigir empenho dos dois lados, isso é positivo, porque convoca todos a se envolver, a pensar enquanto sociedade para educar os pequenos.
Realidade potencializada
Mas esse compromisso mútuo de educar uma criança não pode ser confundido com “terra de ninguém”. Essa união deve ter limites claros de até onde cada lado pode ir.
O conflito entre famílias e escola sempre existiu, mas de alguma forma ficava contido pela separação física entre elas.
E o que aconteceu com a chegada da pandemia? De um lado, a escola entrou, literalmente, dentro dos lares, deixando claro o quanto o ambiente presencial e tudo o que ele representa é primordial para o desenvolvimento das crianças. Do outro, pais e mães que não sabiam bem como lidar com aquela sala de aula em casa.
Para muitas famílias, foi a chance de participar mais da vida escolar do filho, o que, sem dúvida, é benéfico. “Meu filho foi alfabetizado nas aulas online. Não foi fácil, mas eu pude entender muito melhor como a escola ensina, ver como incentivam a autonomia dele. Se não fosse a parceria entre nós, famílias, e a escola, nem consigo imaginar como teria sido essa experiência”, diz a empresária Renata Vilar, 41 anos, mãe de Theo,
8 anos, Breno, 5, e grávida de Lucca.
Mas houve também aqueles pais e mães que tanto assumiram o papel do professor quanto tentaram corresponder aos seus próprios ideais do que é ser um bom aluno, sentindo-se eles próprios avaliados pelo desempenho escolar de seus filhos e, na outra ponta, julgando o trabalho e a aula dada pelos professores.
Vivemos, então, um tempo de ajustes, a partir de um encontro que nos convoca a pensar e repensar o lugar dessa parceria, bem como retomar a confiança na escola e na criança, permitindo que essa relação se fortaleça fora de casa.
Fato é que agora estamos encerrando o segundo semestre do ano letivo, depois da retomada presencial no início deste ano. E esse recomeço já trouxe alguns indícios de mudanças. “No retorno, esse desafio continua.
Temos visto nas crianças e adolescentes sinais de medo por não pertencer mais ao grupo, ansiedade por estar com muita gente, mais comparações entre as meninas adolescentes...”, afirma a psicopedagoga e psicanalista Mônica Pessanha, de São Paulo (SP), colunista da CRESCER. Ela completa: “É considerável o número de crianças que aparecem no consultório tomadas pela angústia da separação.
Outro destaque desses tempos, principalmente para os pequenos em processo de alfabetização ou de consolidação dela, foi a significativa defasagem.” Não é pouca coisa.
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