Fonte: Revista Crescer / Amanda Oliveiraa
Nos últimos anos, houve um aumento de jovens sofrendo com dificuldades emocionais principalmente após a pandemia. Depressão em crianças e adolescentes.
Confira como ajudar seu filho a lidar com problemas de saúde mental.
Se seu filho está com pneumonia, o que você faz? Com certeza, irá levá-lo ao hospital para receber atendimento médico. As doenças físicas costumam deixar os pais bem apreensivos, porém, as famílias também precisam estar atentas à saúde mental dos jovens.
Muitas vezes, os problemas estão diante de nossos olhos, mas podem ser rotulados com “frescuras” ou mesmo “fraqueza”.
Durante o 7º Congresso Internacional Sabará-Pensi de Saúde Infantil, realizado entre os dias 3 a 5 de outubro em São Paulo, Guilherme Vanoni Polanczyk, psiquiatra da infância e adolescência e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), comentou sobre sinais importantes que indicam a necessidade de uma avaliação médica.
No entanto, antes de entender os sintomas, é fundamental avaliar o panorama da saúde mental entre os jovens. Em sua apresentação, o especialista apresentou dados alarmantes evidenciando que o aumento dos problemas de saúde mental começou antes mesmo da pandemia de covid-19.
Entre 2010 a 2019, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil em crianças e jovens de 5 a 14 anos passou de 0,31 (2010) para 0,67 (2019) — representando um aumento significativo de 116,13%.
Com a pandemia, as questões de saúde mental se tornaram ainda mais evidentes. “ No primeiro momento, essa não foi a preocupação maior, mas, à medida que o isolamento acontecia, começamos a perceber que havia um problema grave acontecendo”, destacou o médico.
Polanczyk realizou um estudo online no Brasil com uma amostra de 5.700 crianças durante a pandemia. Os resultados chamaram a atenção ao revelar que 29% das crianças apresentaram sintomas de ansiedade, enquanto 36% demonstraram sinais de depressão. Embora as taxas já sejam altas, o médico destacou que os dados representam uma amostra privilegiada com maior nível socioeconômico.
“Como nós sabemos, a pobreza é um fator de risco muito importante para a saúde mental. Nós podemos pensar que esse número é ainda maior”, acrescentou.
Por trás desse cenário, há diversos fatores de risco, incluindo as incertezas com o mercado de trabalho — especialmente com qual profissão seguir — preocupações com as mudanças climáticas e a constante pressão por alto desempenho.
Por isso, as famílias devem estar atentas às mudanças dos comportamentos dos jovens.
Sinais de atenção
Embora os problemas sejam variados, quando um transtorno se instala os jovens podem apresentar algumas mudanças de comportamento significativas. Confira abaixo:
Isolamento
Baixo rendimento acadêmico
Perda de apetite
Emagrecimento
Cansaço excessivo
Como agir
Ao falar de depressão, uma das principais preocupações dos pais é com relação ao suicídio, entretanto, é importante destacar que antes de chegar a esse desfecho mais trágico da doença, os jovens já podem apresentar alguns sinais dignos de atenção.
“É pouco provável que existam suicídios sem que tenha algo acontecendo. Os sinais estão lá, mas, muitas vezes, os adolescentes não têm uma comunicação aberta com os pais. Eles não sentem que seu sofrimento é validado”, destaca o pediatra.
Quando se abrem sobre seus sentimentos, os jovens costumam ouvir que não deveriam estar tristes, pois se encontram em uma posição privilegiada socialmente. E se falam sobre a morte são duramente repreendidos. Os pais, especialmente os mais religiosos, evitam abordar esse assunto e consideram um absurdo colocá-lo em discussão.
“Falar sobre suicídio é importante, mas, frequentemente, se cria esse tipo de reação de pânico de não saber o que está por vir”, alerta o especialista. “Conhecemos os sinais e fatores de risco, mas, para isso, os pais precisam estar abertos para ouvir, investir tempo e conversar com os filhos”, o psiquiatra acrescenta.
“E se meu filho não quiser fazer terapia?”. Essa pergunta já deve ter passado pela mente de muitos pais. Afinal, os jovens, muitas vezes, são mais resistentes a procurar ajuda.
Nesse caso, as famílias podem buscar orientação. “O terapeuta orienta sobre o que prestar atenção”, afirma Polanczyk. No entanto, em situações de risco, é importante intervir de maneira incisiva.
“Se alguém está com apendicite e não quer ir ao hospital, não dizemos: ‘vamos ver o que acontece’. Temos que entender que [a depressão] é uma doença”, finaliza o médico.
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