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Foto do escritorSilvana Perez

Melatonina para crianças: é seguro dar?

Fonte: Revista Crescer / Ana Paula Pontes e Juliana Malacarne.


Fazendo lista de tarefas

Estudo norte-americano revelou alta de casos de intoxicação em crianças que ingeriram a substância de forma não intencional. A estatística reacende o alerta também sobre o uso indiscriminado do hormônio. Entenda.


Um estudo divulgado na última semana pelo CDC - Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos - mostrou que, entre 2012 e 2021, o número de ingestão de melatonina cresceu 530% na população pediátrica. As hospitalizações das crianças e desdobramentos mais graves também subiram, principalmente devido ao aumento expressivo da ingestão não intencional da substância nas menores de 5 anos, o que correspondeu a 94% dos casos.

 

Em 2020, o CDC já havia alertado que esse hormônio tornou-se a substância ingerida com mais frequência entre as crianças relatadas aos centros nacionais de controle de intoxicações.

 

A pesquisa recente avaliou mais de 260 mil casos de ingestão da melatonina na população pediátrica. Para a maioria das crianças, o sintoma mais comum da overdose de melatonina foi a sonolência excessiva, que variou desde casos em que os pais foram capazes de acordar a criança facilmente até situações em que não era possível despertá-las. No entanto, cinco crianças precisaram ser colocadas em ventiladores e duas morreram.

 

Em nota, a pesquisadora principal do artigo Karima Lelak alertou que os pais precisam tratar a melatonina como qualquer medicamento e mantê-la fora do alcance de seus filhos. “Não é apenas uma vitamina em goma”, afirmou. “Ela precisa ser armazenada adequadamente em armários de remédios, em vez ficar na mesa de cabeceira, por exemplo”.

 

O maior aumento dos casos de intoxicação (38%) foi observado de 2019 a 2020, durante o auge da pandemia. “Acreditamos que mais pessoas precisaram da melatonina para conseguir lidar com o estresse da pandemia”, afirmou Lelak.

 

O QUE É MELATONINA?

A melatonina é um hormônio (conhecido como “hormônio do sono”) secretado pelo corpo (mais precisamente pela glândula endócrina pineal, que fica no cérebro), ao anoitecer, que funciona como uma espécie de regulador do relógio biológico e induz à sonolência. Ou seja, a escuridão é um gatilho para a atividade dessa glândula, e, com a luz, ao amanhecer, ela é interrompida.

 

Já a melatonina exógena é aquela produzida pelos laboratórios, e não é exatamente igual a que produzimos, vale saber. Nos Estados Unidos, a substância é vendida livremente nas farmácias na forma de líquidos, gomas, mastigáveis, cápsulas e comprimidos, todos com instruções de dosagem diferentes.

 

No Brasil, em outubro de 2021, a Anvisa autorizou a venda da substância na forma de suplemento alimentar (assim como já acontece nos EUA, pelo FDA), com a seguinte ressalva: “Os suplementos de melatonina deverão conter advertência de que o produto não deve ser consumido por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante.”

 

MAS CRIANÇA NÃO PODE?

Há uma série de pesquisas buscando entender as consequências do uso da melatonina. Distúrbios do sono, principalmente pesadelos, irritabilidade e sonolência diurna estariam entre eles. Outro problema da ingestão indiscriminada é o organismo ficar confuso com a ingestão do hormônio, levando a uma queda na produção natural. “Apesar de não haver estudos robustos a longo prazo do uso da substância para as crianças, há uma preocupação dos médicos se ela não poderia interferir na puberdade precoce”, diz a neuropediatra Luciane Baratelli, criadora da página Neuro Sem Neura.

 

Segundo a especialista, “não há evidências científicas que embasam o uso da substância para crianças menores de 5 anos. No entanto, ela pode ser indicada, por exemplo, para aquelas que fazem parte do transtorno do espectro autista, que tenham baixa produção de melatonina, com TDAH ou distúrbios circadianos, que seria como se o relógio biológico não estivesse sincronizado com as funções sociais”. Luciane reforça, ainda, que, mesmo nos casos de indicação de uso, é preciso cautela, e sempre seguir à risca a dosagem prescrita pelo médico. Afinal, é um hormônio que a criança está ingerindo.

 

COMO AJUDAR SEU FILHO A DORMIR

Oscilações de sono das crianças são um dos grandes desafios dos pais, em diferentes faixas etárias, mas é fundamental compreender que elas são normais e os números de despertares tendem a diminuir com o passar dos anos. Por isso, a neuropediatra alerta: "O tratamento de primeira linha sempre serão as intervenções comportamentais. Ou seja, o uso de qualquer medicação deve acontecer somente em casos específicos em que a criança tem muitos prejuízos em sua vida decorrentes da privação de sono”.

 

Faz parte das intervenções comportamentais avaliar o que está atrapalhando o descanso dos pequenos e proporcionar um ambiente que dê à criança condições de um descansar mais tranquilo.

 

Veja abaixo dicas da chamada higiene do sono:

 

1 - Estabeleça um horário para colocar a criança para dormir. De preferência, ela deve ir acordada para aprender a “pegar” no sono.

 

2 - Escolha um objeto que funcione como aviso da hora de dormir, como a fralda, um paninho, o travesseiro.

 

3 - Crie um ritual de sono, como um banho morno e relaxante, dar de mamar, fazer a troca e vestir um pijama, escovar os dentes, colocar a criança na cama, parar por alguns minutos, em silêncio, fazer uma leitura, meditação...

 

4 - Não inicie o sono na sala e depois transfira para o quarto. Quando acordar, a criança pode ficar “assustada”, porque dormiu em um local e acordou em outro.

 

5 - Evite que o seu filho use eletrônicos na hora de dormir. Eles emitem a luz azul, que inibe a produção de melatonina.

 

6 - Diminua a intensidade da luz do cômodo: utilizar um abajur ajuda a mandar mensagens para o cérebro de que é hora de produzir melatonina e de adormecer.

 

Fonte: Danielle Negri, pediatra do Grupo Perinatal, do Rio de Janeiro (RJ)

 

*DICA - Independentemente da quantidade de vezes que seu filho desperta a noite, uma boa forma de saber se ele está descansando o suficiente é observar o seu comportamento durante o dia: se apresenta falta de atenção, sonolência, irritabilidade e agressividade.






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