Fonte: Companhia das Letrinhas
“Ah, não tenho nada pra fazer!”, diz uma criança. “Estou entediada", fala a outra.
Basta entrar com os pequenos em casa e retirar as telas para esse tipo de frase aparecer.
A verdade é que nem crianças nem adultos parecem gostar do sentimento de “não ter nada para fazer”, especialmente nesses tempos tão mediados pela tecnologia, em que há sempre “alguma coisa acontecendo”, seja nos jogos eletrônicos e sua sucessão acelerada de desafios e recompensas, seja nas redes sociais em que nós, adultos, gastamos nada menos que 2 horas e 25 minutos diários no Brasil (dados de 2022).
Mas o que a ciência tem provado – e antes dela os filósofos, artistas, criativos e sonhadores em geral – é que o tédio faz bem. Mais que isso: não fazer nada é essencial para a saúde do cérebro e para a nossa criatividade.
“Os momentos de tédio são fundamentais para o desenvolvimento humano e isso começa desde criança”, explica a neuropsicóloga Deborah Moss.
É frequente ouvir de adultos que tiveram insights poderosos em momentos entediantes, em que estavam completamente ociosos ou, pelo menos, mentalmente ociosos, envolvidos em atividades mais físicas e mecânicas que intelectuais – ou no banho, por exemplo.
Já as crianças se transformam nas criadoras mais especiais e potentes justamente quando “não têm nada para fazer” e, então, são obrigadas a tomar uma posição mais ativa, inventando brincadeiras e ressignificando de objetos a memórias.
Por que as crianças precisam “abraçar” o tédio?
Tentamos preencher todo o tempo de nossas crianças com atividades funcionais, como se elas precisassem estar ocupadas o tempo todo com algo produtivo.
Mas a verdade é que o tédio de fazer nada abre espaço para algo muito importante para o desenvolvimento infantil: o ócio criativo.
Se o poeta Manoel de Barros – mestre no ofício de recriar a linguagem em seu cerne – adivinhou alguma coisa quando escreveu que as palavras querem ser tiradas de seu “estado de dicionário”, é que nós, adultos, temos muito a aprender com as crianças.
É dessa matéria brincante que se alimenta a imaginação dos pequenos -- e o livro VAMOS DESENHAR PALAVRAS ESCRITAS? , de Yara Kono e Sofia Mariutti e que tem tudo a ver com ócio do tempo estendido da infância.
Se você tem filhos ou convive com alguma criança, certamente, já viu variações do seguinte episódio: alguém chega com um presente incrível, caro, tecnológico, barulhento, um investimento daqueles.
No entanto, quando o pequeno presenteado abre a embalagem, deixa o conteúdo para lá e se diverte mesmo é com a caixa ou o papel de embrulho.
Objetos como plásticos, fitas, caixas de papelão e folhas de papéis, que, a princípio, não foram feitos para brincar, despertam muito interesse - e é perfeitamente justificável.
Com um pouquinho de imaginação, eles se transformam em castelos, dobraduras, carrinhos, bolas futebol…
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